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G.R.E.S. ACADÊMICOS DA ROCINHA

Sinopse 2013

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"MISTURA DE SABORES E RAÇAS: UMA FEIJOADA À BRASILEIRA"


 

Eu, broto da terra e representante maior da culinária brasileira, o feijão, peço licença para contar junto com a Rocinha esta história que começa com um mexido de raças...

Em uma terra de exuberante beleza onde as matas, rios e praias deixavam aos cuidados do sol o preparo do aroma deste paraíso, seus habitantes primeiros, dela viviam e prosperavam. Deste abundante solo que tudo provia a seus filhos, brotavam as fortes raízes, frutos das árvores, saltavam peixes nos rios e corria a caça entre as matas. Na mistura destes ingredientes, o paladar brasileiro encontra a base de sua formação. O encantamento criado pelo frescor que esta terra exalava, certificou aos estrangeiros recém chegados, que alternativa melhor do que fazer o caminho das índias, para abastecer suas despensas reais: se mostrava aqui. Pois, quão mais atraentes e apetitosas do que terras fartas e donos gentis, para fornecerem novos sabores ao reino? Nesta terra que “em se plantando tudo dá”, os recém-chegados trouxeram animais de criação, o sal e muitos frutos novos, que este solo fértil tão bem acolheu. Contudo, um dos mais vis atos cometidos por estes estrangeiros tempos depois de sua chegada, a escravidão, ofereceu a esta estabelecida colônia extrativista, as mãos negras que fundiriam os sabores; azeitando para sempre com sua ardência e aromas, o paladar deste futuro país chamado Brasil.

Novos ventos sopraram por esta jovem nação outrora estoque exclusivo de Portugal. De várias partes do mundo, estrangeiros fugidos de suas sofridas realidades enxergavam neste país um lugar de oportunidades, fincam suas raízes, e neste fecundo solo, espalham outros sabores enriquecendo a farta mesa Brasil. Tradições se demonstram em sabores e a culinária brasileira segue se modificando com suíços adocicando o inverno das serras imperiais, alemães embutindo seus festejos com fartura, da Itália o molho escorre num domingo a mesa familiar, do Japão a busca pelo equilíbrio alimentar e dos sírios a leveza de um pão delicado e milenar.

E esta nação outrora concebida para saciar necessidades européias, passa a consumir guloseimas do mundo que tentam o nosso paladar. O comércio milenar de alimentos de rua, ganha força no corre-corre dos grandes centros no século XX, o popular “Fast Food”. Entre frituras, massas e embutidos, a pressa nos leva aos mais variados sabores do mundo. Poderosas empresas alimentícias estrangeiras vislumbraram, nesta terra de próspero futuro e tão diversificado paladar, um ótimo local para implementar o sabor de seus países em pacotes rápidos, criando agilidade nas refeições e aguçando nossa gula. A efervescência dos mercados do oriente se traduz na mistura de aromas em condimentados churrascos e agridoces combinações que nos revelam a sorte ao fim do saborear. Da terra das touradas adoçamos nossos dias com um sabor infantil que nos lambuza a alma levando um olé espanhol. E como não desejarmos com os olhos, propagados trios coloridos que tão bem representam o sabor do acelerado estilo de vida americano?

O exponencial crescimento da população mundial e o desequilíbrio criado pela má distribuição de recursos, nos deixam um gosto amargo na boca, ao vermos povos irmãos entregues a própria sorte, sem poderem saborear a vida. Representantes da fome no mundo, certas nações africanas sofrem o degredo deixado por interesses escusos, disputas vis de poder, problemas climáticos e descaso dos ricos países que não sabem dividir a fartura que esbanjam. Estes outrora imponentes povos se transformam em um retrato da desigualdade no mundo, pois a pele exposta não representa mais a triunfante caça do passado e sim, a sua própria curtida em campos da desnutrição. Os ossos abandonados nem ao longe remetem a fartura de uma refeição abastada, mas a morte de seus animais pela fome e sede. Onde está a exuberância dos sabores e dos aromas intensos desta cozinha primeira que aprontou a vida para o Homem? Esta injusta receita não tem gosto bom, nos rouba a alma por vermos vazias as gamelas de mães, que sustentando a criança em uma mão, imploram com a outra, a vida em um desgosto sem fim.

Eu, então, nativo que sou dessa terra gentil, assisti ao despertar deste adormecido gigante que se ergue impávido diante do mundo. Não como simples colônia, mas uma nação poderosa, rica em recursos naturais, agrícola e potência econômica pronta a liderar a cozinha mundial. Um caldeirão cultural que empresta seus dotes culinários, sabores e aromas em uma receita de igualdade e fartura para o mundo saborear, a verdadeira representante da mistura de sabores e raças que se chama Brasil. Uma “feijoada à brasileira”.


Por: Luiz Carlos Bruno
 

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