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G.R.E.S. SERENO DE CAMPO GRANDE

Sinopse 2014

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"BAHIA - NEGRA ALQUIMIA DO BRASIL"

 

"A imagem da cidade tem sido tratada de forma descritiva, onde cada método pressupõe uma forma de leitura do espaço. Esta imagem não se encontra somente na forma, não no espaço, mas, sobretudo, nas ações e fluxos criados pelos cidadãos que lhe conferem uma identidade. A cidade é, portanto, um objeto de expressão e de linguagem, estando sua imagem constituída de elementos simbólicos."
(Alberto Freire de Carvalho Olivieri)

Cambinda, Benin, Gêge, Savarú, Maqui, Mendobi, Cotopori, Daxá, Angola, Massambique, Tápa, Filanin, Egbá, Iorubá, Efon, Quêto, Ige-bú, Ótá, Oió, Iabaci, Congo, Galinha, Aussá, Ige-chá, Barbá, Mina, Oondô Nagô, Bona, Calabar,Bornô, Gimum. Baía de Todos os Santos. Bahia de todas as gentes. Roma Africana. Meca da Negritude.

É noite... negra e linda como a pele dos que chegam. Sob os olhos atentos da coruja, cortando a madrugada, gritos e lamentos ao som do singrar do mar. Um amontoado de gente aporta, o navio inferno abre as portas! Desembarcam dor e saudade. Bagagem apenas na alma para os que não podiam levar pertences. Tradição, ritmo, culinária, religião e língua. Os que agora a pouco eram príncipes e artífices desembarcam sob o peso do pão, pano e pau.

Na Pindorama arrancada dos índios, aportam os negros talentos da África. Chicote e Trabalho. Dor e Lamento. Em São Salvador da Bahia de Todos os Santos os chãos se banham a cada instante por negro sangue e negro pranto. Terra da separação, terra do sofrimento. Palco fadado à tristeza e ao descontentamento...

É noite, a coruja escuta: rum, rumpi e le; os atabaques anunciam a transformação, a magia, a negra força e valentia a transformar a Bahia de negra sede da dor em negra alquimia do amor.

Pousada no galho largo da história, a coruja revê nessa hora a negra superação. Em seus olhos, em desfile, uma Bahia que é fruto da negra alegria forra o chão da Intendentes trazendo a reinvenção.

É noite de mostrar o quê de negroa Bahia tem. Como a terra sede da dor moldou-se sob a negra alquimia em Capital do Amor.

O caldo que é a Bahia, não para de noite e de dia e é todo tempero negro. No caldeirão da alquimia, "um sorriso negro, um abraço negro, traz felicidade." Na formação de um Estado, na etnia de um povo, "negra é a raiz da liberdade".

A coruja conta, em parágrafo e fantasia, em palavra e alegoria, a mágica intervenção africana que, ao fundar a Bahia, fez de um manto de luto um terreiro de magia.

Poderiam os negros que aportaram ser suicidas ou assassinos. Mas a mágica organização do Candomblé, em um banho de cultura, alforriou nossos pretos sábios e assento-os nos banquinhos humildes que hoje ocupam nossos queridos pretos velhos. A negra sensibilidade não quebrou santos em altares, mas desceu as católicas divindades ao sincretismo dos terreiros. A mágica negra funda a religiosidade brasileira. Para contrastar com a maldade da sinhá, o sorriso doce de mãe menininha. Para encher de magia o lugar, as procissões e a lavagem, como quem perfuma com a alma inteira um chão que já se sujou de ruindade e poeira.

Na Bahia da escravidão a negra é quem preparava o que se mandava fazer. Com sua malemolência, vencendo pela imponência, tudo cheirava dendê. "Põe tempero na panela...", pimenta, quiabo e tudo o mais. Acarajé, caruru, vatapá e moqueca. Da África para o Brasil, a palmeira do dendezeiro encontrou nas terras do Bonfim sua afrodescendência. A Bahia transformou em iguarias os retraços que um dia alimentaram a resistência. Dos miudosa negra baiana dos tachos fez angu, fez feijoada. Porque neguinha e arretada é a Bahia, onde os orixás "comem" com desvelo e onde a cor superou a fome para apurar os temperos.

Muitos escravos trazidos foram na África-mãe os escolhidos artistas do grande palácio do Obá. A arte negra banha a Bahia que ostenta em cor, som e dança a vitória da esperança de uma gente sem igual. Sem acalentar a melodia monótona e dura do pranto, a negra criatividade espalha-se pelo gingado por todas baianas cidades. E o negro pode gritar, o negro pode dizer: "a cor dessa cidade sou eu! O canto dessa cidade é meu!" Samba, maracatu, ijexá, coco, jongo, lambada, maxixe, maculelê, capoeira. E porque negro, mulato e pobre não pode brincar no Entrudo, inventou como alegria seu Ijexá deslumbrante, que mais tarde, quem diria, viria a ser música outra em carro com alto-falante!

Os panos rotos se transformaram em vestes de lindas cores. Os estalos do chicote no pelourinho sucumbiram à marcação cadenciada do Olodum e a liberdade transcendente do Ilê Aiyê. Negro não chora, canta. Negro não sucumbe, supera.

Mas o que o negro te trouxe, Bahia, cidade dos guetos e dores ... O que o negro transborda em você, metrópole mundial das cores... É sua gente bonita, de quem és maínha porreta! O que seu povo negro espalhou por ti é essa vontade gostosa de esquecer a tristeza, de superar a pobreza, de dizer não com o requebro a toda e qualquer tentativa de maltratar a dignidade.

Bahia, sua preta alquimia é a da sua gente alforria preta-branca-colorida, que aprendeu com o negro a lição de que mais vale esquecer dos males para colher o que é bom.

Bahia, negra alquimia, sua gente é Praça Castro Alves, sua gente é feita pra brilhar. E apesar de toda "Barra", os negros de sua casa, transformaram seu solo e sua gente em seu verdadeiro "Farol"...

Axé!

 

Wagner Araújo
 

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