Lins Imperial – Sinopse 2016

CARNAVAL DE 2016

SINOPSE DO ENREDO

Tudo Isso é Brasil

Lins Imperial - Logo do Enredo - Carnaval 2016

 

Desde a Terra de Vera Cruz, a beleza sem igual encantou os corações
Os primeiros habitantes já sabiam o quanto de paraíso havia neste lugar
Toda vida e natureza, onde o sol e a lua reinavam como deuses
Dos portugueses, veio a noção de que mundo era uma imensidão
Dos negros, a mistura da cores e axé do seu candomblé
Mais tarde, com os imigrantes vieram mais cores e traços
O resultado: um paraíso disponível a quem quiser

E hoje, tudo isso é Brasil
Entorpece o jambu, cheira o tacacá
Das vozes do curuzu, ao canto dos sabiás
Do manto azul das araras, à corte do maracatu
Diferenças de norte a sul, difícil não se notar
O perfume das flores, as riquezas do mar
Das lendas de Iraci à boneca que pensou Lobato
Do solo também vem riquezas – barroco, o tupiniquim eldorado
Do povo, a alegria; no carnaval ,as fantasias
Do futebol toda paixão e a força do meu pavilhão
É sol, é céu e mar, e mulata a sambar…
Nas lutas nas ruas, na voz do povão
Querendo mais paz, menos corrupção
Cultura, beleza e encantos mil,
Sim, tudo isso é Brasil!

 

Releitura do enredo:

A Lins Imperial se utiliza de uma reedição para fazer seu carnaval em 2016.

Mas não foi uma escolha qualquer. Foi uma escolha lúcida, sobre um tema mais atual do que nunca, uma mensagem que merece ser repetida.

Estivemos nos últimos anos envolvidos num frenesi dicotômico que insiste em se reproduzir, nos colocando às voltas com a mania tacanha de se ter que escolher entre ou isso ou aquilo.

Preto ou branco?

Evangélico ou macumbeiro?

Funk ou MPB?

Sertanejo ou pagode?

Polícia ou político?

Inteiro ou Partido?

Hétero ou assumido?

Nossas vontades e virtudes aprisionadas por uma incansável ceara de escolhas entre lado A e lado B, que insiste em anular o que mais temos de riqueza: nosso multiculturalismo, nossa diversidade.

Nossas origens já tem sido incansavelmente trabalhadas, explanadas e transformadas em fantasias pela avenida. Da originalidade tropical de nossa terra aos traços dos invasores e dos imigrantes, nossos traços culturais foram misturados, nesses pouco mais de quinhentos anos, num imenso caldeirão cultural que ainda borbulha! Ainda nos surpreendemos com novas evidências acerca de nossa língua, de nossa alimentação, de nossa cor, de nossa essência. Ainda não fomos capazes de dizer o que somos, porque nenhuma explicação exata ou científica consegue determinar que o brasileiro é isso ou aquilo, fechadinho, certinho, quadradinho ou redondinho. Não mesmo!

A qualquer sinal de evidência generalista, nós nos revolvemos em novos fatos. Se a feijoada é escrava, alguém a coloca na casa grande. Se o povo usa cabresto, dez mil pessoas num centro de cidade fazem surgir uma onda de revoluções. Se festejamos a Democracia, há os que pedem por golpe. E isso tudo é Brasil.

Uma simbiose de cores, formas, gírias, sentimentos, climas e costumes num lugar de proporções tão continental que, para tentarmos entender, buscamos dividir em regiões.

Mas ainda assim, podemos dizer que alguma delas é homogênea?

O que dizer sobre Bahia e Pernambuco serem celeiros culturais de tamanha importância e diferença, se os mesmos fazem parte do mesmo Nordeste? E rivalidade entre Rio x São Paulo, que colocam à margem a riqueza de Minas e timidez capixaba?

Gaúchos e “barrigas-verde”, manauaras e paraenses, pantaneiros e candangos, muitas diferenças estão presentes até mesmo quando queremos agrupar algumas peculiaridades.

E as grandes capitais são os termômetros de tudo! Concentram diversos formatos, processam diversos valores e daí, mais diversidade surge!

É Brasil reunir tudo isso e espalhar por aí, como fez a pequena notável, embrulhando o tropicalismo num turbante e levando o mundo a conhecer o Brazil!

“É Brasil” todas as reinações de Lobato, que deram vida ao resultado do convívio entre casa grande e a senzala, entre o sapeca e o matuto entre lenda e imaginário, entre sabugo e boneca de pano, entre menino e saci.

É Brasil o barroco mineiro, cravejado de ouro e das mãos calejadas dos negros profanos que carregaram o sagrado nas costas. Também é Brasil o paraíso retratado por Debret, mas também não deixa de ser, a geometria cubista de Romero Britto. É Brasil o que é caprichoso e o que é garantido, o que é fita e o que é flor, o que é mata e o que é centrão, o batidão da lourinha e o gingado do negão.

É Brasil caviar de sagu, ou farofa no mocotó, o anestesiar-se com jambu ou preferir angu a foiegras.

É Brasil a dondoca dos jardins, o topless que deu vida à geral, a rivalidade ao flamenguista, a paixão por Senna, e o “bater panela” (vazia por opção, graças a deus).

É Brasil também discutir alto, ter três celulares, se apaixonar por um verão, querer se separar a cada carnaval… Corromper, surrupiar, jogar lixo em qualquer lugar, juntar gente pra olhar não se sabe o quê e parar o trânsito! Tirar vantagem a qualquer custo também é Brasil, embora a gente jure que quer esquecer, mas esquece de não praticar.

É Brasil ser chique ou ser brega, ser folclore ou carnaval, combinar verde com rosa, ter um técnico de futebol, um carnavalesco, um médico e um advogado em cada família. É Brasil querer tirar férias em Noronha, passar o verão no Rio, fazer compras em Sampa, dançar axé na Bahia, comer costela gaúcha, rezar em Aparecida e consultar os búzios no fim do Pelourinho. É Brasil o pesquisador em São Gabriel da Cachoeira, o Federal em Foz do Iguaçu, o marujo em Trindade ou o índio no Xingú.

É Brasil ser colorido, ser múltiplo, ser plural, odiar ser isso tudo, jurar querer ir embora daqui (mas muita gente lá fora diz que a saudade aperta e que acaba ficando mal).

É Brasil ser brasileiro em Miami, na França, na Antártida ou aonde quer que se chegue e se ouça falar de Pelé e de seleção entre risos e perguntas.

É Brasil também ver tudo isso ser bombardeado por ideologias, ver ataque às diferenças e muita gente tentando manipular os pensamentos.

Tudo bombardeado por informações, softwares, redes, mídias. Tudo se projetando também para criar novas tendências, novas modas, novas religiões, novas maneiras de agir e de pensar, novas máscaras, novas necessidades. E as tribos se reorganizam a partir desse bombardeios. Hip-hop, skate, samba, candomblé, geeks, emos… São muitas as denominações, estilos, modismos, maneiras, pessoas… Mas ainda assim, retomamos nossa mania de querer decidir entre isso ou aquilo, quando se pode ser tantas coisas mais? Porque estar no quadrado, quando é possível se expandir?

Então, viva a diferença, viva a diversidade, viva a cor e a ginga, viva o mar e o calor, o clóvis e a baiana, o mico-leão e a arara, o “sem dente” e o engravatado, o surdo um e o beija-flor, o leão e o ganzá, a águia o pavão, a estrela-guia e as coroas, o aperto de mão, o bailar da porta-bandeira, o grito de guerra saindo da garganta e o panejar do nosso pavilhão.

Porque tudo isso também é Brasil!

 

Luiz Di Paulanis