Por Thalita Santos

 

A última vez que a Estácio de Sá desfilou no Grupo Especial foi no ano de 2007. Depois de 8 carnavais tentando retornar à elite do carnaval, em 2016 a medalha de ouro voltará a desfilar seu ritmo entre as grandes do carnaval carioca. Mestre Chuvisco nos contou um pouco desta expectativa.

Chuvisco, mestre de bateria da Estácio de Sá (Foto: Arquivo pessoal)

Chuvisco, mestre de bateria da Estácio de Sá (Foto: Arquivo pessoal)

“Depois de tanto tempo no acesso, os estacianos estão em festa. Está todo mundo apreensivo pra chegar o grande dia, que é o domingo de carnaval, pra fazer um grande trabalho. Estamos contando as horas.”

Reinaldo, conhecido como Chuvisco, cresceu na Estácio de Sá. Foi ritmista, diretor de bateria e há 8 anos comanda o ritmo da escola. Conhecedor da história e das características da bateria Medalha de Ouro, ele trabalha não só com todo o conhecimento que adquiriu desde pequeno dentro da agremiação, mas também colocando um pouco de si, deixando sua marca como Mestre.

“Como eu estou aqui desde criança, acompanhando o trabalho dos outros mestres, acabo tendo uma grande vantagem. Conheço a bateria como a palma da mão. Comecei tocando repique. Depois vi que as caixas eram o ponto forte da bateria e fui aprender. Em seguida resolvi aprender todos os instrumentos. Uma das administrações de bateria que passou pela escola, não deixava os ritmistas tocarem outros instrumentos, só podiam tocar aquele com que iam desfilar. Uma das coisas que fiz quando assumi, foi fazer a galera começar a pegar outros instrumentos pra aprender. É isso foi muito bom para o crescimento deles. Hoje tem uma molecada aqui que toca todos os instrumentos. Tiram onda.”

Pra quem não sabe, o fator emoção faz toda a diferença pra qualquer pessoa que toca algum instrumento. Dentro do seu estilo, mestre Chuvisco também faz um trabalho em cima da educação musical.

“Aqui, 97% dos ritmistas são estacianos, então eles tocam muito com a emoção, com o coração. Estou passando um pouco pra eles que precisamos deixar um pouco a emoção de lado e procurar tocar com a razão. Às vezes a emoção pode atrapalhar um pouco na hora do desfile.”

A Estácio faz parte do grupo pequeno de baterias que tem quase 100% de ritmistas da casa. Assim como o trabalho de mestre Chuvisco de incentivar os ritmistas a aprenderem a tocar todos os instrumentos, a escolinha de percussão da escola também ajudou a formar muita gente.

“Aqui não temos falta de ritmistas, pelo contrário, a gente tem até excesso. Temos uma dificuldade enorme na hora de selecionar quem vai desfilar. Ano passado, por exemplo, desfilamos com 320 ritmistas e muitos ficaram de fora. Esse ano vamos reduzir para 280, vai ficar mais uma galera de fora ainda.”

A oficina de percussão da Estácio tem 5 anos. Formou ritmistas, não só para a escola, mas para o carnaval, pois muitos desfilam em diversas escolas pelo Rio de Janeiro.

“Se todos os ritmistas que já formamos estivessem na Estácio hoje, nós teríamos que ter umas 3 ou 4 baterias aqui. Ia ser uma confusão danada pra selecionar quem ia desfilar. Aqui é uma fábrica de ritmistas. Parece que eles brotam do chão. A gente aqui tem bateria pra 50 anos.”

O samba da Estácio que vai marcar a volta da escola para a elite do carnaval foi bem aceito pela comunidade e também pela bateria. Chuvisco conta como está sendo o trabalho, visando o desfile no Grupo Especial, onde poucas baterias tiram a nota máxima.

“Nesses anos que estivemos no Acesso, sabíamos que a qualquer momento estaríamos no Especial pois estávamos batendo na trave, sempre entre as primeiras. Sabemos que o júri é mais rigoroso, mas já estávamos nos preparando pra isso. A única coisa que eu vou mudar um pouco do que vínhamos fazendo é diminuir um pouquinho do andamento. Não que a bateria da Estácio vai vir muito atrás, só vamos tirar um pouco do excesso do que foi no último carnaval, e o resto é dar continuidade ao que já fazíamos. Estamos trabalhando em cima de 148 BPM. No dia do desfile, por conta da emoção, que aos poucos estamos trabalhando, pode ser que chegue em 150 BPM, mas se ficar em 148 estará excelente.”

Sobre as surpresas e inovações que o público já espera das baterias, Chuvisco diz que estão pensando numa coreografia, além das paradinhas.

“Estamos decidindo o que vamos levar, mas vamos bem ousados para a avenida.”

E por último, uma curiosidade, pra quem acha que o único destaque da bateria da Estácio são as caixas, mestre Chuvisco fala muito bem de outros detalhes que fortalecem a identidade e as características da Medalha de Ouro.

“Nós temos uma afinação muito boa e uma ala de chocalho muito forte comandada pela Thayane.”

A bateria da Estácio também é uma das poucas que ainda tem uma ala de repiques com 40 ritmistas tocando de verdade”, concluiu o mestre, orgulhoso de sua equipe.”

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