Por Thalita Santos

 

O Império Serrano é uma das poucas escolas que mantém a tradição de tornar mestre de bateria quem que é cria da casa. Desde os 12 anos de idade no Império, Gilmar aprendeu tudo sobre a Sinfônica do Samba, teve seu talento reconhecido e chegou ao cargo máximo de uma bateria.

Gilmar, mestre de bateria do Império Serrano

Gilmar, mestre de bateria do Império Serrano (Foto: Roberta Elias)

Gilmar destaca um aprendizado muito importante pra quem é cria do Império: “Eu aprendi a trabalhar para o Império Serrano, para a comunidade, para o que o samba precisa. Eu tenho todo o apoio da presidente que me deixa à vontade pra trabalhar. Os antigos mestres que ainda frequentam também me apoiam e isso é muito importante.”

A Sinfônica é uma das poucas baterias que ainda tem um estilo próprio, mas mesmo que o mestre seja cria da casa, ele acaba dando de certa forma sua cara ao trabalho. Podemos dizer que o destaque de Gilmar são suas bossas elaboradas, com as famosas conversas entre os naipes.

“Eu já ouvi muitos falarem que a bateria do Império é maravilhosa, mas que às vezes eu faço coisas a mais, desnecessárias, bossas complicadas. Eu gosto de trabalhar todos os naipes, aumentar um pouquinho o grau de dificuldade. O simples é bonito, mais um pouquinho a mais que o simples eu também gosto. Se eu fizer algo normal, os ritmistas já perguntam se aconteceu alguma coisa. Antes da escolha do samba eles já perguntam o que está por vir. Todo mundo gosta.”

Gilmar diz que as ideias vem na maioria das vezes durante os ensaios, e que antes de escolher o samba já pensa em alguma coisa, mas 80% é feito em cima da trilha sonora escolhida.

“O samba tem uma melodia que já diz tudo o que eu preciso fazer. Eu gosto de colocar aquela pitada de loucura, mas sem manchar o brilho do samba, colocando aquela marca registrada que a bateria está acostumada a fazer.”

Sobre as características que formam a identidade da bateria imperiana, Mestre Gilmar destaca as mais importantes.

“Todo mundo fala só dos agogôs. Tem mais duas coisas que fazem o diferencial além deles, que é a batida de caixa e as terceiras. Muita gente fala que a batida de caixa é igual da Portela, mas não é. Nós temos a afinação mais baixa. O momento de rufar é no mesmo lugar, mas na hora do calangueado é diferente. Nenhuma outra escola faz o toque da terceira do Império. Venho com 16 surdos de terceira, sendo que 10 fazem o desenho e 6 vem marcando no seguimento.”

Ainda sobre os agogôs, alguns jurados tiram pontos preciosos de algumas baterias e apontam o naipe nas suas justificativas. Gilmar conta quais os cuidados que tem para o bom desempenho do instrumento na bateria sem comprometer o trabalho.

“O meu cuidado é sempre manter a pulsação. Na primeira do samba a gente elabora um desenho, mas na segunda parte é fundamental manter a marcação, fazendo o toque reto que o agogô tem.”

Para o carnaval 2016, o Império Serrano contratou o cantor Pixulé, que veio do Império da Tijuca, que possui uma bateria com andamento mais acelerado. Gilmar diz que o trabalho de adaptação com o novo intérprete está dando certo. Já a bateria ainda não está como ele quer com o samba, mas estão trabalhando para chegar no ponto ideal.

“Meus diretores dizem que eu sou muito exigente, mas não sou. Sei até onde a bateria consegue ir. Ainda pode fazer mais um pouco.”

O principal foco do mestre e sua bateria é ajudar a escola a voltar ao Grupo Especial. Não pretende ousar além do seu tradicional para não arriscar e tentar garantir boas notas, ajudando a escola a fazer um bom desfile para ganhar o campeonato.

“Vocês vão ver uma escola que está cansada de estar no Grupo de Acesso. Merecemos nosso lugar no grupo principal. Vou trabalhar em prol da harmonia e evolução da escola. Vamos deixar pra ousar mais no Especial. Este ano estamos prontos pra gritar é campeão.”

Gilmar está trabalhando em cima dos 148 BPM, andamento característico do Império. Ao contrário dos últimos anos, ele não pretende mostrar todas as bossas que levará para o desfile no ensaio técnico na Sapucaí.

“Podem esperar uma bateria pronta. No ensaio técnico vou mostrar apenas 30% do que vou levar para o desfile. Quero mostrar mais o ritmo, aquele andamento gostoso e aquelas características que todos já conhecem, e no desfile o couro come.”

A bateria do Império Serrano é composta em sua totalidade por ritmistas formados em casa. Desde 2002 a escola possui uma escolinha de percussão, e hoje colhe frutos deste trabalho.

“Este ano por exemplo eu tinha 140 inscritos na escolinha. Infelizmente não tem como aproveitar todos porque praticamente não tenho vaga na bateria. Aqueles que se destacam mais a gente tenta aproveitar. Temos uma bateria pronta e muitos ritmistas na reserva. Vários formados aqui já desfilam em outras baterias”, completou Gilmar.

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