por Thalita Santos

 

Sabemos que a Furiosa é uma das baterias mais aguardadas atualmente na Sapucaí, tanto no ensaio técnico quanto no desfile oficial. Liderada por mestre Marcão, ela vem tirando boas notas, ajudando o Salgueiro a estar entre as primeiras colocadas nos últimos carnavais. Marcão contou um pouco sobre sua forma de trabalho que resulta no sucesso da Furiosa.

Marcão, mestre de bateria do Salgueiro (Foto: Alex Nunes)

Marcão, mestre de bateria do Salgueiro (Foto: Alex Nunes)

“O segredo é o conjunto: diretores e ritmistas. Se tivermos esses dois fatores trabalhando juntos, dá um casamento perfeito. Nós começamos a trabalhar cedo com coisas básicas, bossas e trabalhos por naipe, tudo isso antes da definição do samba”.

Marcão não é o tipo de mestre centralizador. Ele acredita no trabalho em equipe. Delega funções, dividindo tarefas entre seus diretores, que fazem trabalhos específicos com seus naipes, mas não deixa que eles esqueçam que não são só de um naipe, que eles precisam trabalhar e pensar na bateria como um todo.

“Eles não podem esquecer que são diretores de bateria. Conversei com eles, principalmente com os diretores de chocalho e de tamborim, que não podem ficar só em seus naipes. Se eu precisar sair por um momento da frente da bateria e precisar deles, eles terão que saber olhar o todo. Todos se ajudam chamando atenção para algum detalhe ou outro de algum naipe, pensando no resultado final para o trabalho da bateria”.

O mestre está sempre disposto a ouvir ideias e sugestões, não só da sua diretoria, mas de seus ritmistas e de quem chega pra somar.

“Não tem esse negocio de ‘quem sabe sou eu’. Às vezes, as pessoas ficam com vergonha de falar, sugerir, opinar, porque não sabem como vou reagir. Aconteceu até um caso de um diretor de bateria de outra escola, que desfila como ritmista aqui com a gente, que sugeriu uma bossa para o mestre da sua escola mas não foi ouvido. Chegando aqui, percebemos ele meio triste. Perguntamos o que aconteceu e ele falou da bossa e nos mostrou. Gostei e pedi pra usar naquele ano, e graças a Deus fomos campeões também com a bossa dele”.

Marcão faz questão de manter algumas características que ajudaram a construir a identidade da bateria do Salgueiro. Ele adaptou essas características ao “samba moderno”, que pede cada vez mais ousadia e criatividade.

“O surdo de primeira de 29 polegadas e os taróis do Salgueiro são características que eu não posso mexer. Usamos também surdos de 24 para segunda e de 18 para terceira, para dar uma diferença maior na afinação. Antigamente, o surdo de terceira só centralizava, mas hoje colocamos mais ousadia. Chegou muita garotada boa que fez eu mudar um pouco a cabeça pra isso. Eu também gosto, sou um pouco abusado. Tive ajuda também do mestre Lolo, que hoje está na Imperatriz, dos mestres Leo, Maurão, Washington… Essas pessoas me ajudaram a mudar um pouco, para não ficar fazendo só o tradicional, e ao mesmo tempo sem perder a essência do Salgueiro”.

A Furiosa reúne um time de diretores e ritmistas que são ou já foram mestres e diretores de bateria de outras escolas, que trazem consigo suas experiências para somar. Muitos são formados no Salgueiro. Essa reunião nada mais é do que fruto do trabalho e da liderança do Marcão, que é um mestre agregador.

“O primordial é o respeito. Se você não tiver, não tem nada. Eu já tive fama de marrento. Quando me conheciam, viam que não era nada disso”.

Sobre o julgamento, Marcão se baseia em algumas justificativas, não só do Salgueiro, mas de outras baterias também, para evitar cometer os mesmos erros. Com o tempo, acabaram conhecendo um pouco do gosto de cada jurado, e tentam fazer um trabalho de acordo com o perfil de cada um.

“A gente tenta descobrir o que cada jurado gosta e tentamos trabalhar em cima disso. Cada jurado tem uma cabeça diferente. Tem uns que gostam mais de telecoteco, outros que gostam de carreteiro, tem uns que não gostam de bossas e outros que gostam. Se você passa reto ou faz uma paradinha só, você perde ponto por falta de criatividade. Se você faz 2 ou 3 bossas você tira 10. Tiraram ponto do nosso chocalho esse ano e não tinha nada. Já cheguei a falar com alguns mestres amigos meus, de um dia combinar de ninguém fazer paradinha para ver qual seria o critério do julgamento”.

Pra 2016, o “malandro batuqueiro” tá dando resultado. Quem vai aos ensaios de rua do Salgueiro vê o quanto o samba está casando com a bateria, que está treinando sete bossas e contagiando os componentes. Segundo o mestre, mesmo apresentando suas bossas para os jurados, o trabalho da Furiosa está sendo feito para servir a escola, inclusive o andamento.

“O andamento deve vir entre 146, 147 BPM, mas o que determinou isso foi a emoção. Tá todo mundo muito vidrado em metrônomo, como me falou uma vez o mestre Paulinho Botelho. Nós não somos máquinas, somos seres humanos”.

Marcão também faz uma oficina de percussão no Salgueiro que todos os anos forma diversos ritmistas para várias escolas.

“Eu acho que todas as escolas deveriam ter oficinas. O Salgueiro tem muitos ritmistas. Alguns alunos conseguiram entrar na nossa bateria, mas não tenho vaga para todos. Encaminhamos eles para outras escolas. Um mestre de outra agremiação veio me pedir 30 ritmistas para caixa e eu mandei. É muito gratificante ver alunos formados aqui desfilando. Fazemos um trabalho pra formar ritmistas para o carnaval”, concluiu orgulhoso o mestre.

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